quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Comer bem e barato

Na foto acima, Bom Prato de Santos, inaugurado em 24 de outubro de 2005 e localizado na Praça Iguatemi Martins, s/n – Paquetá.

A solução pode estar nos restaurantes Bom Prato.
Os restaurantes populares recebem pessoas de todas as idades e classe sociais. Em Santos e São Vicente o público inclui desde moradores de rua até idosos que vivem sozinhos, passando por trabalhadores do Centro e, principalmente da periferia, como o caso do Jardim Irmã Maria Dolores, o antigo Quarentenário (na área continental).
O projeto se tornou viável graças ao convênio entre as prefeituras das duas cidades, a Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo e as ONGs Estrela do Mar e Vila Ponte Nova. Com o valor custeado pelo Estado (R$ 2,25), mais o que é pago pelos usuários (R$ 1,00), é possível fornecer uma refeição balanceada.
O cardápio é elaborado por uma nutricionista e encaminhado para aprovação do Codeagro. Dez por cento das refeições servidas no restaurante Bom Prato são gratuitas e destinadas a crianças de até 6 anos.
O Restaurante em São Vicente fica na Rua Ipiranga, 479 – Centro. A unidade foi inaugurada em 20 de dezembro de 2006.

Cidinha Santos (texto); Cássio Freitas e Nathália Geraldo (fotos)

Podcast - Entrevista com Padre Valdeci dos Santos

A ONG Estrela do Mar é uma das responsáveis pelo funcionamento do restaurante Bom Prato, em Santos. Em parceria com o governo do Estado e a Prefeitura, são oferecidas cerca de 1.200 refeições por dia à população.
Além disso, a Estrela do Mar mantém um projeto paralelo que atende crianças carentes da região central de Santos. Nesse projeto, são oferecidas cerca de 40 refeições gratuitas, de segunda a sexta-feira.
O padre Valdeci João dos Santos, que há três anos pertence à ONG, explica a seguir um pouco mais sobre a iniciativa.


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Bom Prato Santos

Brenda Duarte, Daphine Machado e Fabíola Ferreira

Podcast - Entrevista com a Profª Maria Helena Lambert


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Todos à mesa

A partir das 8h30, a fila começa a se formar no Bom Prato de São Vicente. A maioria das pessoas que esperam na calçada é formada por idosos, que chegam cedo para colocar o papo em dia e rever os amigos conquistados durante as refeições.
O restaurante popular, que fica na Rua Ipiranga, no Centro da cidade, é um galpão que recebe 1.200 pessoas por dia e serve pratos balanceados, como arroz e feijão acompanhados de frango, batata palha, abóbora, farofa, salada e pãozinho, por apenas R$ 1,00. Além da refeição, estão incluídos no preço suco e sobremesa.
Um sistema planejado pelo gerente administrativo do Bom Prato SV, César Ianni, estabelece a divisão da quantidade de alimentos por cores de bandeja. Para quem come menos, o almoço é servido em bandejas verdes; nas vermelhas, a quantidade é maior.
Nutricionistas controlam o tamanho das porções de comida e evitam o desperdício. Os copos descartáveis, usados para servir o suco, são doados a ONGs da Cidade, que fazem a reciclagem do plástico.
A comunicação interna também foi idealizada por Ianni. Caixas de som e um microfone são canais para o anúncio do expediente, informações do cardápio e outros avisos.

Almoço em família - Nas paredes do galpão, imagens que simbolizam valores cristãos: solidariedade, família e comunidade. A Santa Ceia, de Leonardo da Vinci, é um dos quadros que representam a simplicidade do ato de servir e compartilhar com o próximo. “Me sinto nos tempos de Jesus, quando todos se reuniam sem preconceitos para sentar à mesa e partilhar o pão”, comenta César Ianni.
Em outra parede, o retrato de Irmã Dolores recorda a luta da missionária para implantar uma unidade do Bom Prato em São Vicente. Falecida em 2008, a líder comunitária foi homenageada com a mudança do nome do bairro Quarentenário, na Área Continental do município, para Jardim Irmã Dolores, onde existe outro restaurante popular desde 2007.
A influência religiosa fortalece os laços de afetividade entre funcionários, voluntários e frequentadores. O encontro diário faz com que a intimidade seja natural. Não existe relação cliente-funcionário - quando se encontram, eles se cumprimentam pelo nome, com muita alegria, abraços e beijos.
Além dos frequentadores assíduos, o público é composto por moradores de rua, carrinheiros, funcionários do comércio do Centro e moradores de outros bairros.


Cássio Freitas e Nathália Geraldo (texto e foto)

"Olha o copo!"

O bordado no avental parecia ter uma mensagem além da palavra “voluntário”. Foi o que chamou a atenção de seu Reinato. Ele passou tantas vezes por ali, mas nunca havia reparado que aquele funcionário de avental não era como os outros. Seu Reinato queria voltar a se sentir útil, já que era aposentado e “só andava pelas ruas da Cidade e pelos bares”, como recorda. A idéia de atuar como voluntário o atraiu de imediato.
Reinato Nicolau Sério começou, então, a trabalhar no Bom Prato de São Vicente, lugar que considera o “melhor remédio” para as doenças que chegaram com a idade, como a perda de memória. O aposentado italiano de 77 anos cumpre duas horas de trabalho recolhendo os copos descartáveis que vão para a reciclagem e, apesar de não conversar muito durante o expediente, garante que é reconhecido nas ruas pelos freqüentadores. “Sempre ouço algumas pessoas falando ‘olha o copo!’. Não tenho muitos amigos, mas aqui o ambiente é maravilhoso e, com certeza, eu recebo muito mais do que eles”.
Reinato na Itália, ou Renato, como é conhecido em São Vicente, tem filhos que moram em São Paulo e uma namorada. “Já tive duas mulheres, casei, fiquei viúvo. Hoje, tenho minha companheira. Ela não mora comigo, mas todo dia vem ao Bom Prato para almoçarmos juntos”.

Nathália Geraldo (texto e foto)

Quantidade é qualidade

Para atender, em média, 1.200 pessoas diariamente, a impressão é de que a quantidade de alimentos seja prioridade, em detrimento da qualidade. Não é o que acontece no Restaurante Bom Prato, em São Vicente. O controle nutricional faz parte do cotidiano dos funcionários. E dessa forma, público é quem tem a ganhar.
A nutricionista Ariadne de Souza Cesare é a responsável pela supervisão, que vai desde a seleção do cardápio até o estabelecimento da quantidade de comida, para que não haja desperdício. “São em 17 ou 18 cubas que os cozinheiros e auxiliares de cozinha colocam os alimentos. Eu doso a quantidade de comida e até mesmo os temperos”, explica.
Além disso, Ariadne é quem liga para os fornecedores semanalmente para encomendar os ingredientes. Esses fornecedores são todos registrados no Ministério da Agricultura. O cardápio é estabelecido pela própria nutricionista, mas o Governo do Estado mantém algumas regras que formam um padrão de escolha. “Não compramos ovos e salsicha, por exemplo, porque são alimentos com alto risco de contaminação”, diz.
Ela também comenta que a escolha do cardápio é baseada em quatro componentes: proteína, ferro, carboidrato e vitaminas A e B. “Não adianta escolhermos os alimentos sem critério nutricional. A pirâmide alimentar é essencial, senão a nossa função não é 100% cumprida. Nós não queremos servir comida por servir. Queremos que todos se alimentem bem”.
O esquema é feito da seguinte forma: um prato é servido com 150g de carne (branca ou vermelha), 250g de arroz, 150g de feijão, 100g de guarnição e 80g de salada. Geralmente a guarnição é composta por carboidratos que, ao contrário do que se pensa, são elementos essenciais no cotidiano alimentar. “O carboidrato se torna importante porque é uma sacarose que, quando vai ao estômago, se transforma em glicose. E glicose é energia, essencial para qualquer ser humano. Servimos, portanto, alimentos como o macarrão, por exemplo, na guarnição, porque ele repõe a energia do organismo”, explica a nutricionista.
Os funcionários do restaurante também se comprometem com o lado social. “Os estagiários de nutrição fazem panfletos e vão às mesas para orientar as pessoas sobre o aproveitamento do pãozinho, que é servido junto com a comida. Muita gente pega e não come. Isso gera desperdício e tira o direito de outras pessoas que realmente comeriam”, conclui Ariadne.

Natasha Guerrize

Natural ou fast food?

Hoje, com a correria da vida moderna, é difícil controlar a alimentação. Assim, cresce a procura por restaurantes de fast food e pratos feitos, como opção para uma refeição rápida e simples, mas nem sempre saudável.
Mudar o hábito alimentar não é fácil. O vendedor Fábio Silva conta que, em seu trabalho, o reduzido tempo para o almoço não deixa outra escolha, a não ser os lanches rápidos, ou os pratos feitos. “Tenho uma hora de almoço. Nesse tempo, só me resta pedir um prato feito, ou comer no McDonald’s, que é mais rápido”, diz ele.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o padrão nutricional recomendado para a ingestão diária de quilocalorias (kcal) está em torno de 55% a 75% de carboidratos; 10% a 15% de proteínas; e entre 15% e 30% de lipídios (gorduras). A dieta diária deve somar em torno de 2 mil kcal para um adulto e 1.800 kcal para uma criança.
Para se ter uma idéia das conseqüências do hábito de comer em fast foods, basta uma simples refeição no McDonald's, por exemplo. Se o consumidor escolher o lanche Quarteirão com Queijo e pedir uma porção grande de batatas fritas, alcançará 98% da quantidade de gordura que o organismo pode ingerir diariamente. Se a opção for pelo lanche Big Tasty, não é necessário nem o acompanhamento: apenas o sanduíche possui 55g de gordura, o que corresponde a 100% da ingestão diária recomendada.

A nutricionista Flávia Pinheiro explica que, para garantir a saúde do corpo, é necessário equilibrar os nutrientes, evitando o consumo excessivo de gorduras e valorizando as fibras, vitaminas e minerais. “Se não existir outra opção a não ser uma refeição fast food, é bom fazer escolhas mais saudáveis”, aconselha.
Como escolha alimentar, a nutricionista recomenda os assados, por exemplo, ao invés de alimentos fritos como coxinhas e pastéis, que contêm maior quantidade de gordura,. Sanduíches a base de hambúrgueres contêm uma quantidade elevada de gordura saturada e colesterol. Portanto, o melhor é escolher um sanduíche simples de filé grelhado, de frango ou peito de peru. Quanto à bebida, o ideal é suco natural ou chá gelado sem açúcar. Se não for possível, a versão light, diet ou zero.
No caso dos pratos feitos, Flávia Pinheiro dá a dica de um rodízio balanceado para toda a semana. Às segundas, quartas e sextas-feiras, variar a refeição entre carne, frango e peixe, acompanhados de legumes e verduras refogadas e cruas; na terça-feira, é recomendável o tradicional arroz com feijão, mais legumes e verduras variados; já na quinta-feira, o cardápio pode ser macarrão e salada.


Entenda o rótulo:

Gorduras totais: São as principais fontes de energia do corpo e ajudam na absorção das vitaminas A, D, E e K. Referem-se à soma de todos os tipos de gordura encontrados em um alimento.

Gorduras saturadas: Presentes em alimentos de origem animal, como carnes, bacon, pele de frango, queijos, leite integral, manteiga, requeijão e iogurte. O consumo desse tipo de gordura deve ser moderado, porque em grandes quantidades pode aumentar o risco de doenças do coração.

Gorduras trans: Encontradas em alimentos industrializados como margarinas, cremes vegetais, biscoitos, sorvetes, salgadinhos de pacote, produtos de panificação, alimentos fritos e qualquer outro que utilize em sua preparação gorduras vegetais hidrogenadas. Seu consumo deve ser muito reduzido, porque em grande quantidade aumenta o risco de doenças do coração. Não se deve ingerir mais que 2g dessa gordura por dia.

Jenny Dávila